Simão Marinho, da PUC-MG, fala
sobre as dificuldade de integrar educação e sites
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Uma pesquisa realizada pelo
Ibope revelou que 87% dos usuários de internet do país utilizam uma rede social
- 83% deles usam esses serviços para finalidades pessoais. É legítimo supor que
estudantes e professores também se relacionam por meio daqueles sites. Contudo,
se as redes são hoje território da amizade, da diversão e da paquera, ainda é
difícil pensar em usos pedagógicos para a ferramenta.
Pelo menos é isso que
conclui Simão Marinho, coordenador do programa de pós-graduação em educação da
PUC-MG e assessor pedagógico do programa Um Computador por Aluno, do governo
federal. “A escola é como uma cidade com muros que a limitam. Já o Facebook ou
o Orkut são inverso disso – são praças públicas onde podemos encontrar todo o
tipo de elemento”. E isso, segundo o especialista, assusta escolas e
professores. Confirma a seguir os principais trechos da entrevista com Marinho,
convidado a falar sobre o tema em um painel especial da Bienal Internacional do
Livro de São Paulo, que se encerra neste domingo.
As redes sociais já fazem parte
da educação?
Do ponto de vista pedagógico,
acredito que ainda não há nenhum impacto das redes sociais virtuais na
educação. Fora da escola, ou mesmo para entrar em contato com os amigos da
escola, os alunos fazem uso das redes – Orkut, Facebook, MySpace –, mas elas
ainda não são usadas para outros fins.
Quais os entraves à aproximação
entre escolas e redes digitais?
A primeira dificuldade está na
estrutura da escola e na postura do professor. Dificilmente, eles chegariam ao
modelo ideal de rede, que é aquela que não tem centro, não tem comando nem
poder. Dentro dessa estrutura, vejo uma enorme dificuldade para a escola fazer
uso dessas redes porque seria preciso que os que os professores não se
sentissem comandando alunos, determinando tarefas. Além disso, existem alguns
riscos nas redes sociais que a escola não quer assumir, como o da segurança, do
bullying e da pedofilia. Por tudo isso acredito que hoje a escola não está na
rede, e a rede não está na escola.
A liberdade característica das
redes sociais é um empecilho?
Sim. A escola é como uma cidade
com muros que a limitam. Já o Facebook ou o Orkut são inverso disso – são
praças públicas onde podemos encontrar todo o tipo de elemento, do mais benigno
ao mais nocivo. Isso sem dúvida é um complicador, porque nem todos que estão
ali são os parceiros de escola.
Se a escola ainda não está na
rede, o senhor sente uma demanda dos alunos para que ela esteja?
Acho que os alunos não estão
interessados nesse envolvimento. Se você descola da questão educacional, eles
se envolvem nas redes e até abordam questões ligadas à escola, mas não são
questões ligadas ao aprendizado. Tive acesso a uma pesquisa nos Estados Unidos
onde a maioria dos alunos pedia aos professores que não estabelecessem
contato nas redes sociais. É como se dissessem: ‘Acabou a hora da aula,
não quero mais falar com você’. Isso acontece, em parte, porque os alunos usam
essas redes inclusive para criticar os professores. O Orkut, por exemplo, tem
aquelas comunidades ‘Eu odeio o professor fulano’. Então os alunos não querem o
professor na rede. Com esse tipo de uso, a escola fica ainda mais
desconfiada em usar as redes.
Fora da sala de aula, os alunos
e até os professores fazem uso das redes sociais por lazer. Transformar esse
lazer em aprendizado é um desafio?
É um grande desafio. O ideal
seria que o aprendizado tivesse o mesmo gosto saboroso do lazer e fosse uma
fruta tão tentadora e suculenta quando a fruta da diversão. Porque os alunos e
professores vão atrás disso nas redes sociais, eles querem a conversa afiada
com o amigo, trocar ideias, fazer planos para o fim de semana. Algumas escolas
isoladamente já conseguiram superar esse desafio, mas são poucas. Não estou
dizendo que não funcione, mas acredito que ainda não encontramos a fórmula para
isso.
Quais seriam as vantagens de
uma escola integrada às redes sociais?
A vantagem maior seria que as
escolas, os professores e os alunos conversassem entre si e trocassem
experiências. Mas a discussões deveria girar em torno da educação ou a rede
social vira apenas um playground, uma área de lazer e entretenimento. E para
que isso aconteça é preciso que cada nó dessa rede tenha uma importância e
contribua para a discussão, porque a comunicação por esse meio pressupõe
igualdade, sem ninguém controlando as cordinhas da rede. E acredito que esse
seja um complicador para as escolas.
O que escolas e educadores
devem evitar em matéria de redes sociais?
Os professores não devem
reprisar na virtualidade aquilo que está acontecendo na sala de aula, ou seja,
devem buscar expandir na internet os conteúdos ensinados na escola. Os
conteúdos são importantes, mas tratar de assuntos que extrapolem o aprendizado
também pode ser interessante. Por exemplo, professores e alunos podem discutir
o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nas redes sociais. Podem – e devem –
discutir o vestibular, dificuldades, carreira. Se a escola começar a criar
essas espaços e fóruns, pode ser que a rede funcione.
Alguns entusiastas defendem que
o bom uso das redes sociais pode funcionar como catalisador da reinvenção da
escola. O senhor acredita nisso?
Isso é coisa de entusiasta! Não
podemos jogar na ferramenta o peso da inovação pedagógica. Nenhuma máquina muda
a escola. O que muda a escola é o professor e não acredito que apenas o fato de
ele se integrar a uma rede social mude alguma coisa. Antes disso, ele
precisa entender que a educação hoje tem um outro significado. Hoje o professor
já não é a única fonte de informação que ele aluno tem. Ele precisa entender
que o papel dele é criar estratégias para que o aluno aprenda, seja com a
escola, com a internet, com o celular ou com o livro.
O senhor é assessor pedagógico
do programa do governo federal Um Computador por Aluno (UCA). O que de fato os
alunos desenvolvem com a ajuda do computador?
Com o computador, eles têm
acesso a fontes de informações diversas, além de ter nas mãos a possibilidade
de se expressar por linguagens multimidiáticas. O laptop do UCA é computador,
comunicador, telefone, câmera de vídeo e fotográfica, gravador digital, entre
outros. Ele é fundamentalmente um instrumento para a linguagem múltipla que eu
utilizo quando preciso. E junto com a discussão da inovação tecnológica
tentamos discutir a inovação pedagógica. E só assim poderemos transformar a
escola.
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