Desenhados para atender perfis
diferentes de alunos, os três tipos de escolas do país escondem desigualdades
Na Alemanha, quem quer ter uma carreira de
sucesso precisa pensar no ensino médio desde criança. Se por um lado o mérito
do aluno tem uma relação importante com as possibilidades de estudo, a
trajetória estudantil também tem peso fundamental, já que é avaliada logo no
início da formação acadêmica.
No sistema educacional alemão, cada estado tem
autonomia sobre a legislação e diretrizes da sua rede, mas em quase todo o país
o ensino primário termina na quarta série. As duas séries seguintes já fazem
parte do segundo grau e são conhecidas como "período de orientação".
Durante esses dois anos, o professor acompanha de perto o comportamento e as
notas de um estudante. Com base nisso, cabe a ele, no final, recomendar para
qual das três "áreas" do ensino médio o aluno irá - as opções
costumam não ter volta. Os pais também tomam parte na decisão, porém têm pouca
influência.
Cada área tem um tempo de duração e níveis de educação
diferentes. O Gymnasium é considerado o mais completo e tem o objetivo de levar
à universidade. Na maioria dos estados, apenas os alunos com as melhores notas
entram em instituições desse tipo. Mas há casos como o da cidade de Berlim, em
que 30% dessas vagas são sorteadas, independentemente do desempenho do aluno.
Os alunos dessa área têm aulas de disciplinas como alemão, matemática, física e
química, biologia, geografia, história, religião, música, artes, política,
educação física, inglês e outras línguas estrangeiras, que variam dependendo da
escola. Além dessas matérias, há atividades como coral, fotografia e xadrez,
que na maioria das vezes são opcionais.
Ao completar o Gymnasium , o aluno realiza um exame
chamado Abitur, que permite a entrada nas universidades alemãs. Nos cursos em
que a demanda pelas vagas é maior que a oferta, a pontuação nesse exame é usada
como critério de admissão. A maioria das instituições de ensino superior na
Alemanha é pública e em 10 dos 16 estados do país as universidades são
gratuitas. No restante, são pagas e custam em média 500 euros por semestre.
Currículo integrado
Nas outras duas áreas restantes os últimos anos do
ensino secundário envolvem o ensino profissionalizante. O Realschule é
considerado uma educação intermediária. Além das disciplinas comuns, que têm
conteúdos mais aprofundados, essa área também costuma ter aulas de uma segunda
língua estrangeira e informática. Ela vai até o décimo ano e, após a conclusão,
o aluno precisa realizar um teste para ganhar um certificado chamado Mittlere
Reife , que permite entrar em instituições de um tipo de ensino
profissionalizante, chamado Fachoberschulen - esse modelo também faz parte do
segundo grau e dura dois anos.
No primeiro, as aulas acontecem dentro de uma empresa.
As avaliações são feitas por profissionais da própria instituição, seguindo
diretrizes que variam em cada escola. No último ano, o aluno retorna para a
sala e volta a ter as matérias comuns, como língua estrangeira, matemática,
biologia, geografia e história. Nesse momento, ele também precisa escolher um
segmento para se especializar (as opções são negócios, saúde, design, nutrição
e economia). Cada um deles tem disciplinas específicas que completam a grade
curricular.
Já o Hauptschule é a área com o nível mais baixo.
Mesmo as disciplinas compulsórias têm um conteúdo mais elementar. Ele dura até
o nono ano e o aluno o termina com 15 anos, quando recebe o Hauptschulabschluss
(nesse caso é necessário fazer testes). Além das disciplinas comuns, há também
específicas dessa área, como Arbeitslehre , que dá aulas teóricas sobre o
mercado de trabalho, semelhante ao modelo de "career education" da
educação britânica.
O principal objetivo do Hauptschulen é preparar
somente para outro tipo de escolas profissionalizantes de segundo grau: as
Berufsfachschulen . Um detalhe importante é que alunos das outras áreas também
podem se matricular nessas instituições, ainda que não seja o costume da maior
parte. Elas oferecem cursos de diversos setores, como negócios, línguas
estrangeiras, saúde e indústria, que preparam para pelo menos um campo de
atuação específico. Ainda assim a grade também tem uma parte menor reservada
para disciplinas regulares como alemão, educação física e inglês. De acordo com
dados de 2003 do Ministério Federal de Educação e Pesquisa, os cursos mais
populares são mecânica de veículos, elétrica e cozinha. Outra informação
importante: em alguns estados, como Brandenburg, Bremen, Mecklenburg-Vorpommern
e Saarland, o Hauptschule foi incorporado ao Realschule , dando lugar a novas
escolas. Elas têm nomes diferentes dependendo da região, mas todas oferecem uma
educação semelhante ao Realschule e um diploma com a mesma validade que o
oferecido inicialmente por essa área.
Abismo
A maior parte dos estudantes da educação básica alemã
estão em escolas públicas gratuitas - apenas 6% deles frequentam
instituições privadas. Segundo uma pesquisa realizada em 2008 pelo governo
federal, 20% dos estudantes frequentam escolas do tipo Hauptschule , 27% estão
em Realschulen, 6% nas instituições que reúnem essas duas áreas e 35% no
Gymnasium . Contudo, mesmo que a definição do percurso de um aluno seja feita
muito cedo, há maneiras de migrar entre essas áreas. Alunos com as melhores
notas do Hauptschulen podem solicitar a admissão no décimo ano do Realschule .
E os alunos com as melhores notas no Realschule conseguem entrar em uma
instituição chamada Fachgymnasien , que oferece entre dois e três anos do
conteúdo ensinado no Gymnasium - o intuito é prepará-los para o exame Abitur. A
disparidade na qualidade de educação dessas três áreas é grande. A edição de
2003 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) aponta que o
aproveitamento médio dos alunos do Hauptschule foi de 428 pontos. Já no
Realschule essa média chegou a 510 pontos, enquanto no Gymnasium foi de 587
pontos. ( Filipe Jahn )
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