quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Criatividade e a Criança





É preciso escolher entre uma escola na qual seja fácil aos professores ensinar e uma escola na qual seja fácil aos alunos aprender". ( Tolstoi )


         As atitudes criativas levam o indivíduo não só a uma maior independência interna e autoconfiança, estimulando-o a desenvolver suas aptidões como a conhecer suas características individuais e os seus próprios limites. Criatividade é a emergência de um produto relacional novo, resultante, por um lado, da unicidade do indivíduo e, por outro, dos materiais dos eventos de outros indivíduos e das circunstâncias de sua vida. (Rogers)
         O comportamento criativo pertence à categoria dos comportamentos integrativos, uma vez que o ser humano sente, pensa, age e cria como um todo e na sua trajetória vital é sensível às mudanças ambientais, a fim de ajustar a própria mudança pessoal. A dimensão criadora das suas atitudes leva-o não só a fazer novas associações para integrar ideias e objetos, mas, também, a saber, manipulá-los com o objetivo de ativar sua mente e descobrir novas potencialidades.

Criatividade é a emergência de um produto relacional novo, resultante, por um lado, da unicidade do indivíduo e, por outro, dos materiais dos eventos de outros indivíduos e das circunstâncias de sua vida. (Rogers)
         Muitas pesquisas foram realizadas, procurando uma definição, meios que permitam avaliar as capacidades criativas e fatores condicionadores da produção criativa.
         Algumas definições são constituídas da seguinte forma:

o   Criar é expressar o que se tem dentro de si, devendo ser a concepção criativa, sempre original e individual, uma vez que todo esforço autêntico de criação é interior. (Matisse)
o   Criatividade é um processo que torna alguém sensível aos problemas, deficiências, hiatos ou lacunas nos conhecimentos, e o leva a identificar dificuldades, procurar soluções, fazer especulações ou formular hipóteses, testar e retestar essas hipóteses, possivelmente modificando-as, e a comunicar os resultados. (Torrance)
o   Criatividade pode ser considerada como uma forma de solucionar problemas, envolvendo saltos intuitivos ou uma combinação de idéias de campos largamente separados de conhecimentos. Isso nos levaria a completar, implicando na manipulação de símbolos ou objetos externos para produzir novos eventos. (Cagné)
o   Criatividade é processo de se formar idéias ou hipóteses, de testar hipóteses e de comunicar resultados, pressupondo que o produto criado seja algo novo. (Thurstone)
o   Criatividade, num sentido restrito, diz respeito às habilidades, que são características dos indivíduos criadores, como fluência, flexibilidade, originalidade e pensamento divergente, relacionando o processo aos fatores e variáveis isoladas e avaliadas. (Guilford)
o   A criatividade é um processo de mudança, de desenvolvimento na organização da vida subjetiva. (Ghiselin)
o   Criatividade é como a descoberta e a expressão de algo que é tanto uma novidade para o indivíduo criador quanto uma realização por si mesma. (Margarete Mead)
o   No pensamento criador a pessoa pensa simultaneamente em mais de um plano de experiência, ao passo que no pensamento comum segue caminhos usados por anteriores associações. (Koestler)

         O comportamento criativo pode ser estimulado por condições do meio ambiente, sendo muito importantes as experiências educativas de estímulo à criatividade. Por vezes, uma criança criadora atemoriza o professor que se vê pessoalmente ameaçada pela originalidade do aluno e por não poder controlá-lo, ficando então abafado seu talento.
         É preciso favorecer a estimulação às potencialidades criadoras dos indivíduos através do incentivo às ideias originais, do reforço ao pensamento divergente, de abordagens não diretivas, da aprendizagem pela descoberta e do equilíbrio progressivo do desenvolvimento mental.
Em uma pesquisa realizada com crianças americanas de uma escola pública, foram encontrados quatro grupos, classificados da seguinte forma:
         O grupo que apresentou alta criatividade e inteligência mostrou-se seguro, confiante nas suas habilidades e, em termos de relações sociais, desempenha papel de liderança, é mais ativo, demonstra alto nível de atenção, concentração e de interesse, contudo está pronto, quando surge um interesse maior, a canalizar a atenção para esse ponto.
         O grupo que apresentou maior criatividade e baixa inteligência é o que apresenta maiores dificuldades de adaptação em classe, é inseguro, evita relacionamento, é desconfiado, com atitudes frequentes de oposição, e tem dificuldades de atenção e de concentração.
         O grupo que obteve baixos índices tanto na criatividade como na inteligência, apresenta atitude mais coerente e adaptada do que os outros grupos, pois é menos inseguro, tem bom relacionamento e parece compensar as suas performances escolares fracas através da afirmação na esfera social, o que não acontece com o grupo anterior que se torna mais ressentido e retraído.
         O grupo de alta inteligência e baixa criatividade demonstra confiança e segurança pessoais, entretanto, em termos de padrões de companheirismo, por exemplo, não procura a companhia dos demais, é hesitante ao expressar opiniões pessoais, mas a atenção e concentração são altas, apresenta atitude de reserva social grande e preocupação maior com o rendimento escolar do que com as relações escolares.
         Quanto ao índice de adaptação e de controle emocional se chegou as seguintes conclusões: Os grupos de alta criatividade e inteligência têm mais controle e liberdade, tanto relacionada a padrões de comportamento mais infantis ou mais adultos. As crianças com alta criatividade e baixa inteligência estão em conflito com elas mesmas e com o meio ambiente, sendo dominadas por sentimentos de inadequação e insegurança.
         O grupo de baixa criatividade e alta inteligência pode ser descrito como aquele que adere tão somente ao desempenho escolar; o fracasso escolar é percebido como catastrófico e, por isso, fará o possível para evitá-lo.
         As crianças que revelaram baixa criatividade e baixa inteligência desenvolvem uma série de manobras defensivas procurando, sobretudo, uma atividade intensa social compensatória.

  
DESENVOLVIMENTO

         Uma educação criativa deve favorecer a mobilização do potencial criativo em todas as disciplinas e assuntos, dando valor ao pensamento produtivo, uma vez que a criatividade estará presente em várias situações e diversidade de assuntos.
         O desenvolvimento da criatividade dependerá da mudança de atitudes, tanto por parte dos professores como dos alunos; devemos considerar que a criatividade é potencialidade que apresenta diferenças qualitativas.
         Ensinar para a criatividade pressupõe inicialmente promover não só atividades criadoras, mas, sobretudo, atitudes, excluindo-se o princípio simplista de que o indivíduo é criador apenas por efeito da hereditariedade.
         A escola deve continuar a transmitir conhecimento, não como um fim em si mesmo, mas como meio de se atingir uma vida realizada. Aprender por incorporação, seja combinando o retirado de uma experiência com o anterior ou fertilizando a vida intelectual e emocional, favorece a comunicação entre professor e aluno, pois aprenderam através dessa relação que muitas questões comportam várias respostas e erros frequentes podem representar pontes para soluções corretas. Na verdade muitas realizações nasceram de erros preliminares. O professor criativo favorece a explosão da energia potencialmente criadora dos alunos e a sua respectiva canalização. É preciso criar necessidades para o pensamento criativo, prever os seus períodos de ativação e de incubação, propiciar fontes geradoras de novas ideias, encorajar o pensar até o fim, desenvolver a crítica construtiva e a aquisição do conhecimento em diversos campos. O indivíduo criativo caracteriza-se pela persistência das suas motivações e pela intensidade dos motivos que o levam a superar obstáculos e a vencer barreiras.

Fonte: (Maria Helena Novaes -Psicologia da Criatividade, ed.Vozes)

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